sábado, novembro 24, 2007

O amor e a repetição

A repetição, no amor, é o esgotamento. Dizer "Eu te amo" cinqüenta vezes é declarar estado de falência a este sentimento. O amor não é óbvio, não é um extrato que podemos retirar incessantemente, à força bruta, de fontes inesgtotáveis. É inconstante, não resistindo, muitas vezes, à mesmice de si mesmo em formas equivalentes. Para se ter amor, é necessário desvendá-lo, descobri-lo como se nunca d'antes...observá-lo nas entrelinhas do que não se diz, para que o deixe livre em suas diversas manifestações. É percebê-lo e de outras, então, omiti-lo, para que possa, n'algum breve instante, pensar-se não existente e não ser a todo momento amor. Então, se quiseres ser deste sentimento um verdadeiro cúmplice, não o repitas milhões de vezes na intenção de mantê-lo vivo: seja-o, simplesmente, em suas insólitas ocasiões...

quinta-feira, novembro 22, 2007

Concretização do Ato

permita-se virar a página:
ser o avesso da coisa, o revés da situação.
não descanse enquanto não encanta,
não se durma enquanto o mundo dança
não se faça vítima da conformação:
apresente prova, fato,
algo que o livre deste passo em falso,
desta narrativa, da argumentação.
Desvaneça como areia em névoa tempestiva: sorria
mudo e calado,
na intenção de concretizar
o verdadeiro ato.

sábado, novembro 03, 2007

Escrever

"Escrever é procurar entender. É procurar reproduzir o irreproduzível. É sentir até o último fim o sentimento que permaneceria vago, sufocador [...]"

C.l.a.r.i.c.e.L.i.s.p.e.c.t.o.r.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Encontro

estou fora de contexto; afastado, distante. é tanto o tempo que virou cegueira: não enxergo, não enxergo o poema. houvera-me um, decerto, batido à porta: recusei-lho para dar caminho à prosa. não obstante, faltara-me argumentos, desenvoltura poética para descrevê-lo. e foi que lhe abri a porta: entrara, sorrateiro. buscava um vate que o destrinchasse, pusesse em seu corpo atavios opulentos. como explicar que, justo agora, quando fora aquele me bater à porta, com tamanho sentimento, estava eu tão livre de meus tormentos? meu poema interno, congelado por si mesmo na frigidez do ato mecânico de vencer na vida, perdera o vigor. declarei-me inapto e nunca poeta. o poema foi-se embora, em linha reta.